Quando
comecei a fotografar, levado pelas mãos e olhares dos mestres Elza e João
Rossato, senti que algo muito importante havia nascido em mim: eu estava
aprendendo a ver, e não simplesmente olhar.
Nesse
processo evolutivo, mesmo as coisas mais simples e, em geral, despercebidas da
maioria dos seres humanos, passaram a ter algo cativante para mim, alguma coisa
que, antes da fotografia, não estava ali simplesmente porque eu olhava, mas não
via.
Agora, recentemente,
passei a saber qual o presente que me
deu a fotografia : descobrir o wabi sabi.
Wabi sabi é
a expressão que os japoneses inventaram para definir a beleza que mora nas
coisas imperfeitas e incompletas. O termo é quase que intraduzível : wabi sabi
é um jeito de “ver” as coisas através de uma óptica de simplicidade,
naturalidade e aceitação da realidade.
Contam que
o conceito surgiu no século XV. Um jovem, Rikyu, queria aprender os complicados
rituais da Cerimônia do Chá e procurou o grande mestre Takeno Joo. Para testar
o rapaz o mestre mandou que ele varresse
o jardim. Rikyu limpou o jardim até que não restasse nem uma folhinha fora do
lugar.
Ao
terminar, examinou cuidadosamente o jardim impecável, cada centímetro de areia
imaculadamente varrido, cada pedra no lugar, todas as plantas ajeitadas. E,
então, antes de apresentar o resultado ao mestre, Rikyu chacoalhou o tronco de
uma cerejeira e fez caírem algumas flores que se espalharam displicentemente
pelo jardim.
Mestre Joo,
impressionado, admitiu o jovem no seu mosteiro. Rikyu tornou-se um grande
Mestre do Chá e, desde então, é reverenciado como aquele que entendeu a essência
do conceito de wabi sabi: a Arte da imperfeição.
Os mestres
japoneses perceberam a beleza e elegância que existe em tudo que é tocado pelo
carinho do tempo. Uma velha tigela de chá, musgo cobrindo as pedras do caminho,
a toalha amarelada, uma única rosa solta no vaso, a maçaneta da porta nublada
das mãos que a tocaram...
Enfim,
fotografar, é descobrir que na natureza todas as coisas são impermanentes,
imperfeitas, incompletas. Fotografar é ver a beleza escondida na feiúra, a
grandeza existente nos detalhes despercebidos. Fotografar é apreciar e
registrar momentos da ordem cósmica, é focar no intrínseco, no irregular, no
despretensioso, no turvo, no envelhecido, na simplicidade.
http://www.tortoro.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário