sábado, 5 de janeiro de 2013

8 de janeiro - Dia do Fotógrafo


                                           WABI SABI E A FOTOGRAFIA


            Quando comecei a fotografar, levado pelas mãos e olhares dos mestres Elza e João Rossato, senti que algo muito importante havia nascido em mim: eu estava aprendendo a ver, e não simplesmente olhar.

            Nesse processo evolutivo, mesmo as coisas mais simples e, em geral, despercebidas da maioria dos seres humanos, passaram a ter algo cativante para mim, alguma coisa que, antes da fotografia, não estava ali simplesmente porque eu olhava, mas não via.

            Agora, recentemente, passei a saber qual  o presente que me deu a fotografia : descobrir o wabi sabi.

            Wabi sabi é a expressão que os japoneses inventaram para definir a beleza que mora nas coisas imperfeitas e incompletas. O termo é quase que intraduzível : wabi sabi é um jeito de “ver” as coisas através de uma óptica de simplicidade, naturalidade e aceitação da realidade.

            Contam que o conceito surgiu no século XV. Um jovem, Rikyu, queria aprender os complicados rituais da Cerimônia do Chá e procurou o grande mestre Takeno Joo. Para testar o rapaz  o mestre mandou que ele varresse o jardim. Rikyu limpou o jardim até que não restasse nem uma folhinha fora do lugar.

            Ao terminar, examinou cuidadosamente o jardim impecável, cada centímetro de areia imaculadamente varrido, cada pedra no lugar, todas as plantas ajeitadas. E, então, antes de apresentar o resultado ao mestre, Rikyu chacoalhou o tronco de uma cerejeira e fez caírem algumas flores que se espalharam displicentemente pelo jardim.

            Mestre Joo, impressionado, admitiu o jovem no seu mosteiro. Rikyu tornou-se um grande Mestre do Chá e, desde então, é reverenciado como aquele que entendeu a essência do conceito de wabi sabi: a Arte da imperfeição.

            Os mestres japoneses perceberam a beleza e elegância que existe em tudo que é tocado pelo carinho do tempo. Uma velha tigela de chá, musgo cobrindo as pedras do caminho, a toalha amarelada, uma única rosa solta no vaso, a maçaneta da porta nublada das mãos que a tocaram...

            Enfim, fotografar, é descobrir que na natureza todas as coisas são impermanentes, imperfeitas, incompletas. Fotografar é ver a beleza escondida na feiúra, a grandeza existente nos detalhes despercebidos. Fotografar é apreciar e registrar momentos da ordem cósmica, é focar no intrínseco, no irregular, no despretensioso, no turvo, no envelhecido, na simplicidade.

            Fotografar é a divina Arte de Registrar as  Imperfeições.



 ANTONIO CARLOS TÓRTORO


http://www.tortoro.com.br 


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