Cyro Marin Pereira (14.08.1930 – 09.06.2011) Mário Jequibau Albanese
Músico é aquele que consegue transformar em som tudo que acontece ao seu redor. A música nasce por um impulso inato, sendo óbvio que necessita de conhecimento técnico para ter molde artístico. O ensino musical no Brasil foi sempre entendido como um complemento da educação e, portanto, um privilégio dos mais abastados. Já, como fato social, sempre teve marcante importância, pois inexistem períodos sem música e, as expressivas manifestações musicais no carnaval, nos chorões e serenatas assim o comprovam. Ainda, é de amplo conhecimento que a maioria, dos grandes nomes da música popular do passado, foi autodidata, instruiu-se por si, no convívio com outros músicos, ouvindo discos e também pela comunicação oral. Houve época em que o músico era tratado como um pária, um indivíduo sem casta na sociedade, por ser boêmio e, sem profissão definida. Cyro Marin Pereira, nascido, na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, veio para São Paulo em 1950 com 20 anos e foi um dos que aprimorou seu conhecimento musical no dia-a-dia trabalhando como pianista, arranjador e regente de orquestra na Rádio Record de São Paulo na rua Quintino Bocaiúva onde me foi apresentado pelo inesquecível Garoto, Aníbal Augusto Sardinha. Àquela época e no campo da música popular, geralmente as músicas não eram escritas sendo apresentadas pelo autor tocando, cantando ou numa gravação em minicassete caseiro. Assim e nessas condições, a importância do arranjador se evidenciava na estrutura final da composição ao agregar introdução, harmonia e ritmo, fatores decisivos para sua aceitação. Em um artigo sobre o Cyro, publicado no jornal Hora de São Paulo, em 1982, destaquei a importância do arranjador e a necessidade de reconhecer como legítimo o direito conexo a que faz jus. Nesse sentido e com essa ótica o Ciro produzira um programa intitulado o Maestro Veste a Música, para explicar com detalhes a instrumentação utilizada e os efeitos produzidos. Lembro-me que Insônia, de minha autoria, com letra de Heitor Carillo, foi dissecada pelo Ciro nesse programa sem imaginar que no futuro seríamos parceiros. Dessa proximidade resultou a gravação de SOL, minha composição inserida no LP Música dos Astros, PPL 12014, da Continental, com Cyro e Orquestra. O fato curioso foi o expediente utilizado pela gravadora de lançar esse mesmo disco mudando o título para Românticos Del Caribe, como contraponto ao sucesso obtido pelos Românticos de Cuba. Sem dúvida, o convívio diário com o Cyro nos anos sessenta foi produtivo. Eu o reencontrei na Rádio e TV Record instaladas na Av, Miruna, perto do aeroporto de Congonhas, num momento especial, pois os Maestros Gabriel Migliori, Hervé Cordovil e Ciro Pereira, estavam com folga no trabalho em razão das radicais mudanças realizadas na grade de programação da emissora. Assim tivemos horas produtivas para conciliar as pesquisas que resultaram no jequibau, uma inovação autêntica que conseguiu, tal qual rastilho de pólvora, enorme repercussão nos EUA, consubstanciada nas gravações de renomados artistas e na inserção em métodos de ensino. Vencedor de concursos internacionais sua expansão mereceu registros em matérias publicadas por revistas e jornais especializados do mundo. No livro, Cyro Pereira, Maestro, escrito por Irineu Franco Perpétuo, por feliz coincidência, a história do Jequibau se inicia na página 5/4 e vai até a de número 58. As pessoas queridas não morrem porque ficam encantadas na nossa lembrança, para sempre! O pensamento cria, o desejo atrai e a fé no trabalho realiza. Seu irmão de alma e eterno parceiro, Mário Jequibau Albanese.
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