quinta-feira, 2 de maio de 2013

O Garoto gênio das cordas – Aníbal Augusto Sardinha

Caríssimos parceiros de ideias e ideais.
Já se passaram 55 anos da morte do Garoto ocorrida aos 03.05.1955.
Aníbal Augusto Sardinha - Garoto, paulistano de 28.06.1915 morreu no Rio de Janeiro aos 03.051955, com 39 anos e 11 meses, dos quais 23 vivido em sua querida cidade e 17 no RJ. O dom para a música, talento criativo e habilidade técnica, são valores ingênitos que explicam a precocidade do Garoto de tocar, com poder imanente e sem dificuldade, vários instrumentos como, banjo, cavaquinho, bandolim, violino e violão de diversos tipos! Ganhou fama como o gênio das cordas! Garoto aninhava entre os braços qualquer um desses instrumentos com naturalidade e carinho, fazendo a música fluir, espontânea e expressiva. Improvisador emérito, criou novas estruturas para o violão que o transformaram em elo de união entre a música popular e a erudita, diminuindo o hiato existente. Não há como ignorar que sua capacidade de improvisar transformou a música em um organismo vivo, pulsante e em permanente evolução. Transbordava talento e criatividade. Garoto foi parceiro e amigo de outro extraordinário violonista, Laurindo de Almeida, nascido na cidade litorânea chamada Prainha, hoje Miracatu, perto de Santos, de renomado prestígio nos Estados Unidos onde viveu e morreu aos 26.07.95, com 78 anos. O violão tenor nasceu da mente inventiva do Garoto e do luthier Del Vecchio que, inspirados no banjo americano chamado Triolin, projetaram um tipo de violão com as cordas fixadas em uma placa de alumínio. Com esse diafragma o instrumento ganhou um timpre percussivo e maior sonoridade, sem alterar a afinação. Obtida a patente foi lançado em 1933 e mostrou-se de grande utilidade em conjuntos regionais tanto para solo como acompanhamento, no Brasil e no exterior. Registre-se que Garoto tocava guitarra portuguesa, guitarra havaiana, violoncelo, contrabaixo, um violão de cinco cordas parecido com o cavaquinho, bandola de oito cordas e sons graves, além de inventar um bandolim-cello com 4 cordas de sons graves, para música lenta. Com o Garoto amadureci musicalmente e a minha reverência pelo violão se concretizou na composição Meu amigo Garoto, que compus em sua homenagem em vida. Nos idos de 1950 e incentivado por ele, coloquei letra na música Amor Indiferença, fazendo também sua transcrição para piano em mi bemol. Essa composição integra o álbum comemorativo dos 100 anos do choro no Brasil, editado pela Fermata (1977).
Mário Jequibau Albanese
Maestro, Poeta, Mentor do Spazio Cultural

Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, é uma peça chave da música brasileira. Compositor e virtuose das cordas – bandolim, violão, violão tenor… -, Garoto fazia música popular com harmonias modernas (não foi só no Jazz estadunidense que a harmonia se desenvolveu) que até hoje irão soar arrojadas para ouvidos destreinados. Em certo sentido, antecipou mesmo a Bossa Nova, pois os acordes que empregava e os contornos melódicos foram incorporados definitivamente à música popular apenas nesse período. Trabalhou muitos anos com o maestro Radamés Gnattali, de quem certamente tirou muitas lições; aliás, Radamés e Rafael Rabello gravaram um disco chamado “Tributo a Garoto”, imperdível.
Da minha parte, aprendi a tocar três solos de violão desse mestre: “Jorge do Fusa”, “Lamentos do Morro” e “Desvairada”. A primeira traz aquelas harmonias e contornos melódicos que falei acima, a segunda é um samba instrumental de vigor impressionante e a última é tecnicamente umas das músicas mais difíceis de serem bem tocadas ao violão. Aliás, “Desvairada” motivou esse post.
No endereço http://ims.uol.com.br/hs/garoto/garoto.html é possível conhecer bastante sobre Garoto. Na página chamada “Composições Próprias” encontramos uma gravação da “Desvairada” com o Garoto tocando bandolim. Dá para ter uma boa idéia de sua genialidade, como compositor e, assustadoramente, como instrumentista – a clareza das notas e a velocidade do andamento são… sem comentários.
Para quem não conhece, é uma valsa. Então, para acompanhar o discurso musical de maneira eficiente, é melhor escutá-la prestando atenção no compasso ternário (ache onde estão as batidas fortes e daí perceba que elas são intercaladas com outras duas fracas, como contando 1 – 2 – 3 repetidas vezes). Esse 1 – 2 – 3 faz parte do acompanhamento, pois a melodia flui com duas notas por tempo (contando 1 e – 2 e – 3 e), é claro com alguma variação. Quando der a sensação que a melodia está correndo um pouco mais é porquê a frase musical ganhou o ritmo de tercinas (onde está a expectativa por duas notas são colocadas três), evidenciando ainda mais a virtuosidade da música e do intérprete. Nessa gravação segue-se a forma A – B – B – A – C – C – A. O “A” é a parte central, no tom de ré menor; o “B” vai ao si menor; e o “C” faz uma interessante paráfrase da primeira parte transformada no tom de ré maior.
Mas, além dessas explicações, o prazeroso é obviamente ouvir o Garoto. E daí no link http://ims.uol.com.br/hs/garoto/garoto.html tem bastante músicas, completas, de forma rápida e fácil. Aliás, o acervo de música on-line do Instituto Moreira Salles é de encher os olhos (ou melhor, os ouvidos).
Tiago Cesquim
jornalista, músico, pesquisador


Nenhum comentário:

Postar um comentário